Ouvir notícia
Segundo informações do site Metrópoles, interlocutores do Palácio do Planalto consultam parlamentares do centrão sobre a medida. As conversas ocorrem de forma reservada, enquanto o Governo avalia os impactos econômicos e políticos da eventual reversão da chamada ‘taxa das blusinhas’ — o imposto federal de 20% que passou a incidir sobre encomendas de pequeno valor.
A medida seria uma maneira de conter o desgaste político causado pela taxação e, ao mesmo tempo, um aceno para a China em meio ao tarifaço de Donald Trump.
A cobrança entrou em vigor em agosto de 2024 e ficou popularmente conhecida como “taxa das blusinhas” por atingir compras internacionais de até US$ 50 em sites como Shopee, Shein e AliExpress. A alíquota definida foi de 20%, além do ICMS — imposto estadual que já era aplicado nessas encomendas.
Antes da mudança, esse tipo de compra era isenta do Imposto de Importação, o que gerava reclamações de varejistas brasileiros sobre concorrência desleal. Para o setor, lojas físicas enfrentam uma carga tributária mais alta, enquanto plataformas estrangeiras cresceram no país vendendo produtos com impostos reduzidos — algo que se intensificou durante a pandemia, com a alta do comércio eletrônico.
Pelas regras atuais, compras que vão de US$ 50 a US$ 3 mil pagam 60% de Imposto de Importação, além do ICMS de 17%. Nos estados do Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe, o ICMS subiu para 20% nessas compras em 1º de abril deste ano.
O possível recuo na taxação seria visto como um gesto de boa vontade com a China, maior parceira comercial do Brasil, especialmente agora que exportações para os EUA podem sofrer com o aumento das tarifas de Trump.
Além disso, a medida também tentaria aliviar o desgaste político que existe antes mesmo de a cobrança começar, com consumidores reclamando dos preços mais altos para roupas e acessórios importados.
Com a notícia de que o governo avalia rever a medida, ações de varejistas brasileiras, como C&A e Renner, registraram queda na B3, a bolsa de valores brasileira. De acordo com o Metrópoles, os papéis da Renner recuaram 3,9%, enquanto as ações da C&A tiveram baixa de 2,21% nessa segunda-feira (14/07).
Cenário
Apesar da tributação em vigor, os dados da Receita Federal indicam que a arrecadação com compras internacionais de até US$ 50 alcançou recordes em 2024, sinalizando resiliência na demanda por produtos importados. Analistas avaliam que uma eventual isenção poderia ampliar ainda mais a fatia de mercado de players, tal qual a Shein no e-commerce brasileiro.
A mera possibilidade de mudança já provocou reações no mercado. Nos últimos dias, varejistas nacionais viram suas ações recuarem na Bolsa diante da perspectiva de aumento da competitividade de plataformas estrangeiras.
A movimentação do Governo também é observada sob a ótica da diplomacia comercial. Com a ameaça de Donald Trump, presidente dos EUA, de impor tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, a estratégia pode representar um esforço de diversificação de parceiros e fortalecimento das relações com a China.
Visão do setor
De acordo com Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, a eventual revogação da taxa de importação de 20% sobre compras até US$ 50 representaria um impacto significativo e imediato no varejo nacional.
“Nós estimamos uma potencial redução entre 15% e 25% no faturamento de categorias sensíveis ao preço, como moda básica, eletrônicos de baixo valor e acessórios. Os pequenos e médios varejistas seriam os mais afetados, especialmente aqueles sem diferenciação clara de produto ou serviço. O impacto seria sentido já no primeiro trimestre após a mudança, com possível estabilização apenas após 12-18 meses de adaptação do mercado”, comenta.
De acordo com o executivo, a interpretação do setor varejista brasileiro sobre essa medida é de retrocesso na proteção da indústria nacional e dos empregos locais. A reversão da taxação será vista pelo segmento como “abandono do varejo nacional em favor de interesses externos”.
Motivações
Ao todo, Felisoni traz três fatores principais para explicar motivos dessa mudança: pressão inflacionária, pressão diplomática internacional e lobby de grandes marketplaces internacionais.
“O governo pode estar buscando baratear produtos ao consumidor como medida anti-inflacionária de curto prazo. É importante notar que o timing coincide com necessidade de popularidade e medidas que mostrem redução de preços ao consumidor, mesmo que isso comprometa a indústria nacional no médio prazo”, comenta.
Por fim, o especialista afirma que o varejo brasileiro precisa acelerar sua transformação para competir além do preço. Sendo assim, ele lista as seguintes melhorias:
- Velocidade de entrega;
- Integração entre loja física e digital, oferecer serviços como ‘compre online, retire na loja’;
- Ampliar o conhecimento do consumidor brasileiro;
- Oferecer mix de produtos relevantes;
- Agregar serviços.
Com informações do Metrópoles