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Soltura de 13 peixes-bois reabilitados estão cada vez mais próximos de retornar ao seu habitat natural. O projeto de reabilitação e soltura de peixes-bois no Amazonas se destaca como uma iniciativa vital para a preservação dessa espécie emblemática. O peixe-boi, ou manatee, é uma das espécies que habitam as águas doces dos rios amazônicos, desempenhando um papel significativo nos ecossistemas aquáticos. Esses animais são conhecidos por sua dieta herbívora, que contribui para a saúde das plantas aquáticas e, por conseguinte, para a qualidade da água. No entanto, eles enfrentam desafios extremos que ameaçam sua população.

Os animais, que atualmente vivem em um lago seminatural para fins de readaptação, passaram por exames clínicos realizados por especialistas da Associação Amigos do Peixe-Boi. A organização atua em parceria com o Projeto Peixe-Boi do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).

A avaliação é uma etapa decisiva antes da soltura definitiva dos peixes-bois nos rios da Amazônia, prevista para maio de 2025. O projeto conta com apoio financeiro do SeaWorld, por meio do Fundo de Conservação SeaWorld & Busch Gardens, que colabora com diversas iniciativas ambientais no Brasil.

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Há cerca de um ano, os animais foram transferidos dos tanques de fibra do Inpa para os lagos da Fazenda Santa Rosa, em Iranduba (AM), a 32 quilômetros de Manaus. Segundo a coordenadora do projeto, Vera da Silva, esse período de transição é fundamental, para que os peixes-bois reaprendam a se alimentar sozinhos e a nadar em águas mais próximas das condições naturais, com sedimentos e menor visibilidade.

Para selecionar os animais mais aptos à soltura, a equipe realiza capturas individuais para pesagem, medição e coleta de sangue, urina, fezes e saliva. Esses exames permitem garantir que apenas os peixes-bois saudáveis sejam liberados, evitando riscos à fauna selvagem.

A soltura de 13 peixes-bois reabilitados ocorrerá na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus, próxima ao município de Beruri (AM), e contará com o apoio de moradores locais, que auxiliarão no monitoramento dos animais após a reintegração à natureza.

O filhote mede cerca de um metro de comprimento, pesa cerca de 14 quilos, é do sexo feminino e tem cerca de três meses de idade. Segundo informações da equipe da Semadetur, o animal foi encontrado na Aldeia Laranjal, localizada no rio Marimari com o rio Urariá, na fronteira de Nova Olinda do Norte com Borba.

Foto: Móises Henrique/Ipaam

O diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, destacou a importância da parceria entre as instituições para a proteção da fauna amazônica.

“O resgate desse filhote de peixe-boi é um exemplo claro de como a colaboração entre os órgãos estaduais e municipais, juntamente com entidades como a Ampa, é essencial para a proteção dos nossos animais. Quando fomos acionados, nossa equipe começou imediatamente a articular as ações necessárias para garantir que o filhote fosse acolhido de forma segura”, disse o gestor.

O secretário da Semadetur, Jaith Manoel, explicou que recebeu uma ligação, na noite de quinta-feira (20), de um morador da Aldeia Laranjal e, no dia seguinte, foi ao local acompanhado de técnicos da secretaria, onde encontraram o filhote dentro de um tanque, muito bem tratado pelos moradores da comunidade.

“Vendo que o filhote estava com a saúde boa, nós o trouxemos para Nova Olinda do Norte. Liguei para o Ipaam no mesmo dia que o peguei, e fui muito bem atendido e tudo foi muito bem articulado”, afirmou.

Conforme o médico veterinário Eduardo Marques, da Gerência de Fauna (Gfau) do Ipaam, a rapidez foi essencial para o sucesso do resgate.

“A gente sabia que, como o filhote era muito novo, ele precisava ser trazido o mais rápido possível. Então, compraram as passagens para o transporte do animal, que foi colocado em um tanque e trazido até Manaus. Assim que o animal chegou ao Porto de Manaus, nossa equipe o recebeu e o levou diretamente ao Inpa, onde ele passou a ser monitorado de perto”, explicou. A viagem de barco durou cerca de 12 horas de Nova Olinda do Norte até Manaus.

Foto: Móises Henrique/Ipaam

Próximos passos

O médico veterinário Antony Filho, da Ampa, detalhou o plano de cuidados para o filhote de peixe-boi, que está em boas condições de saúde. De acordo com ele, o animal passará por uma série de exames clínicos e físicos, incluindo a coleta de sangue para avaliar suas funções metabólicas. A partir daí, será monitorado semanalmente para garantir que seu desenvolvimento siga o curso esperado.

Até os dois anos de idade, o filhote permanecerá em uma área chamada “berçário”, onde começará o processo de desmame, deixando gradualmente o leite artificial para ser alimentado com gramíneas e verduras cultivadas no Inpa. Após essa fase inicial, será transferido para um tanque maior, onde continuará a ser monitorado até os cinco anos. Nessa fase, será levado para uma área de semicativeiro, onde ficará por dois a três anos, sendo então avaliado para possível reintrodução à natureza.

Antony Filho explicou que esse processo de reabilitação, desde a chegada do animal até a sua soltura em áreas naturais, pode levar de seis a oito anos.

O leite administrado aos filhotes é uma fórmula especial, desenvolvida por meio de uma pesquisa no Inpa, composta por leite em pó, farelo de soja, aveia, farinha de milho, óleo de canola e enriquecida com aminoácidos e vitaminas. Durante esse período, o filhote ganha peso de forma saudável, com aumento de 800 gramas a 1,2 quilos por semana, dependendo de seu estado de saúde.

Processo de Reabilitação dos Peixes-bois

O processo de reabilitação dos peixes-bois resgatados é uma tarefa complexa e delicada que visa garantir que esses mamíferos aquáticos possam retornar ao seu habitat natural. Inicialmente, ao serem resgatados, os peixes-bois são submetidos a um rigoroso tratamento veterinário. Este tratamento envolve a realização de exames de saúde que identificam quaisquer doenças ou lesões que possam comprometer a recuperação dos animais. Veterinários especializados em vida selvagem desempenham um papel fundamental, proporcionando cuidados médicos adequados para cada animal.

Após a fase de diagnóstico, o cuidado contínuo é imprescindível. Os peixes-bois precisam ser alimentados com uma dieta apropriada que reflita o que encontrariam na natureza. Isso implica na oferta de vegetação aquática variada, como gramíneas e algas, que constitui a base de sua dieta. Os profissionais que cuidam desses animais dedicam tempo para garantir que os peixes-bois se alimentem bem e mantenham um bom estado de saúde ao longo do processo de reabilitação.

A adaptação ao ambiente natural é outro aspecto crítico deste processo. Para facilitar esta reintegração, as equipes utilizam técnicas de condicionamento gradual. Isso pode incluir a exposição dos peixes-bois a ambientes que imitam suas condições naturais, além de estimular comportamentos instintivos. A equipe multidisciplinar envolvida, que inclui biólogos, veterinários e voluntários, enfrenta diversos desafios, como o monitoramento do comportamento dos animais e o manejo na transição para a vida selvagem. Cada passo é monitorado de perto para assegurar que os peixes-bois desenvolvam as habilidades necessárias para sobreviver fora do cativeiro. Portanto, o sucesso do processo de reabilitação depende em grande parte da colaboração entre profissionais e dos métodos aplicados durante este delicado trabalho.

A Importância da Soltura para o Ecossistema

A soltura de peixes-bois reabilitados no Amazonas desempenha um papel crucial para a saúde dos ecossistemas aquáticos locais. Esses mamíferos, conhecidos scientifically como Trichechus manatus, são herbívoros e se alimentam de vegetação subaquática, o que ajuda a controlar o crescimento de plantas aquáticas e a manter o equilíbrio ecológico. Ao se alimentarem, os peixes-bois promovem a aeração do ambiente aquático e favorecem o crescimento de outras espécies de plantas e algas, essenciais para a vida aquática.

Além de contribuírem para a flora local, os peixes-bois também têm um impacto significativo na fauna da região. A presença desses animais ajuda a sustentar a biodiversidade ao fornecer alimento e habitat para diversas outras espécies. Por exemplo, muitas aves aquáticas se alimentam dos mesmos organismos que os peixes-bois ajudam a manter em equilíbrio. A recuperação e soltura desses mamíferos marinhos, portanto, não apenas favorece a conservação da própria espécie, mas também protege a complexidade das interações entre as diferentes espécies do ecossistema.

Futuro do Projeto e Contribuições das Comunidades Locais

O futuro do projeto de reabilitação e soltura dos peixes-bois no Amazonas é promissor, refletindo um compromisso contínuo com a conservação dessas espécies ameaçadas. Um dos principais planos a serem implementados é o monitoramento dos peixes-bois após a sua soltura, utilizando tecnologias de rastreamento que permitirão acompanhar seus padrões de movimento e comportamento no ambiente natural. Esta abordagem não apenas fornecerá dados valiosos sobre a adaptação dos peixes-bois em seu habitat, mas também contribuirá para a pesquisa sobre as ameaças que eles enfrentam atualmente, como a perda de habitat e a caça ilegal.

A conscientização e a educação ambiental são componentes críticos para o sucesso do projeto. As comunidades locais desempenham um papel fundamental na conservação dos peixes-bois e na proteção de seus habitats. Ao promover programas de educação e atividades de conscientização, é possível fomentar um maior entendimento sobre a importância da preservação da biodiversidade. Isso inclui workshops e palestras que abordem a ecologia dos peixes-bois, bem como os benefícios que esses animais trazem para o ecossistema.

Além disso, as comunidades são incentivadas a se envolver em iniciativas de conservação em nível local. Por exemplo, a organização de grupos de vigilância comunitária pode ajudar na proteção dos peixes-bois e em seus habitats contra atividades ilegais. Iniciativas como projetos de turismo sustentável também podem ser desenvolvidas, estabelecendo um equilíbrio entre a conservação e o desenvolvimento econômico, criando alternativas viáveis para os habitantes da região. A colaboração entre organizações não governamentais e moradores locais é crucial, pois fortalece a responsabilidade coletiva pela preservação da espécie e estimula o compartilhamento de conhecimentos e recursos.

 

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